quarta-feira, 20 de abril de 2016

Brilhante USTRA

Brilhante Ustra, ícone da repressão da ditadura brasileira.



Morreu na madrugada desta quinta-feira, 15 de outubro, Carlos Alberto Brilhante Ustra, coronel reformado que dirigiu por cerca de quatro anos o DOI-Codi de São Paulo, um dos mais famosos centros de repressão do Exército durante a ditadura brasileira (1964-1985). Aos 83 anos, o militar – um dos mais temidos dos anos de chumbo do Brasil –tratava um câncer de próstata e estava com forte pneumonia. Sofreu uma falência múltipla de órgãos após passar mais de 30 dias internado no Hospital Santa Helena de Brasília, onde vivia com a família. Ele tinha a imunidade baixa e estava à espera de uma quimioterapia.

Ustra partiu sem arrependimentos, conforme declarou diversas vezes, sobre as denúncias feitas contra ele, que foi o primeiro agente da ditadura a ser reconhecido como torturador pela Justiça brasileira. Nascido em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em 1932, o coronel era acusado de comandar torturas em presos políticos, como a atriz Bete Mendes – presa e torturada em 1970 e que o reconheceu quando ainda era deputada federal em uma viagem ao Uruguai, em 1985, onde Ustra era adido militar na embaixada brasileira de Montevidéu.

Entre setembro de 1970 e janeiro de 1974, o período em que foi chefe do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna, nome completo do DOI-Codi, Ustra tinha como missão, segundo ele mesmo definia, “combater terroristas que queriam implantar o comunismo no Brasil”. Sob essa ideia e nesse período, foi responsável por 47 sequestros e homicídios, de acordo com o relatório Direito à Memória e à Verdade, e 502 desaparecimentos de políticos, segundo o levantamento do projeto Brasil Nunca Mais. O relatório final da Comissão da Verdade, documento oficial do Estado brasileiro sobre o período, apontou 377 pessoas, entre eles o coronel Ustra, como responsáveis diretas ou indiretas pela prática de tortura e assassinatos durante a ditadura militar.


Sua avaliação dessas cifras, feita ao jornal gaúcho Zero Hora, deixa entrever o valor que ele atribuía à vida: “Quantos mortos nós tivemos? Não chegou a 500 de ambos os lados: 119 do nosso e quase 400 deles. [Isso] porque nós, militares das Forças Armadas, combatemos de maneira profissional”, declarou. Na entrevista, concedida em 2014, ele ainda compara os milhares de desaparecidos pelos governos militares que se espalharam pela América Latina com os números do Brasil, que, a seu ver, “estabeleceu um modelo de combate ao terrorismo”. “Como que na Argentina, para combater o terrorismo, foram 30.000 mortes? No Uruguai, pequenininho, foram 5.000 mortes; Peru, 30.000; Chile, quase 30.000. Colômbia, que quis manter a democracia, está até hoje lá, território dividido, mais de 45.000 mortos. Se fôssemos combater igual aos outros, era 150.000 no mínimo. Pense bem”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pela visita, volte sempre. "O mundo é nosso"